«Senhor, ensina-nos a orar.»
Na oração, as palavras servem para nos estimular e nos fazer compreender melhor o que pedimos ; não pensemos que são necessárias para informar o Senhor ou forçar a Sua vontade.
Quando dizemos: «Santificado seja o Vosso nome», estimulamo-nos a desejar que o nome de Deus, que é sempre santo em Si mesmo, seja também honrado como santo entre os homens, e nunca desprezado; e isto não é para benefício de Deus, mas dos homens. Quando dizemos: «Venha a nós o Vosso reino» – que há-de vir certamente, quer queiramos, quer não –, excitamos a nossa aspiração por aquele reino, para que ele de facto venha a nós e mereçamos reinar nele.
Quando dizemos: «Seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu», pedimos ao Senhor que nos dê a virtude para que se cumpra em nós a sua vontade, como os anjos a cumprem no céu.
Quando dizemos: «Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido», tomamos consciência do que pedimos, e do que devemos fazer para merecermos receber o perdão.
Quando dizemos: «Livrai-nos do mal», recordamos que ainda não estamos naquele sumo bem onde já não é possível sofrer qualquer mal.
E estas últimas palavras da oração dominical têm um significado tão amplo, que o cristão, seja qual for a tribulação em que se encontre, pode com elas exprimir os seus gemidos ou lamentações, dar início, continuar ou terminar a sua oração.
Tínhamos necessidades destas palavras para gravar na memória todas estas realidades. Quaisquer outras palavras que possamos usar na oração nada mais dizem para além do que se encontra já na oração do Senhor, se de facto oramos como convém.
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja
Carta 130, a Proba, sobre a oração, 11-12 (trad. cf bréviaire 3ª feira da XXIX semana do Tempo Comum)