Uma alma abrasada de amor não pode ficar inactiva. Sem dúvida que, como Santa Maria Madalena, ela permanece aos pés de Jesus, e escuta a Sua palavra doce e inflamada.
Parecendo não dar nada, dá muito mais do que Marta, que se aflige com muitas coisas e que quereria que sua irmã a imitasse.
Não são, de modo nenhum, os trabalhos de Marta que Jesus censura; a esses trabalhos se submeteu humildemente sua Mãe durante a vida, pois tinha de preparar as refeições da Sagrada Família. Era apenas a inquietação da sua ardente anfitriã que Ele queria corrigir.
Todos os santos o compreenderam, e mais particularmente talvez aqueles que encheram o universo com a iluminação da doutrina evangélica.
Não foi acaso na oração que os santos Paulo, Agostinho, João da Cruz, Tomás de Aquino, Francisco, Domingos e tantos outros ilustres amigos de Deus beberam esta ciência divina que arrebata os maiores génios?
Houve um sábio que disse: «Dai-me uma alavanca, um ponto de apoio, e levantarei o mundo.» O que Arquimedes não pôde obter, porque o seu pedido não se dirigia a Deus, e por não ser feito senão sob o ponto de vista material, obtiveram-no os santos em toda a plenitude: o Todo-Poderosos deu-lhes como ponto de apoio Ele mesmo e Ele só; e como alavanca a oração, que abrasa com fogo de amor.
E foi assim que levantaram o mundo; é assim que os santos que ainda militam na terra o levantam e que, até ao fim do mundo, os futuros santos o levantarão também.
Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja
Manuscrito autobiográfico C, 36 r° – v°, Edições Carmelo, 2000 (rev.)