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«O povo que habitava nas trevas viu elevar-se uma grande luz» (Is 9,1)

Meus irmãos, ninguém ignora que todos nós nascemos nas trevas e que nelas vivemos outrora. Mas façamos por não continuar nelas, agora que nasceu para nós o sol de justiça (Mal 3,20).

Cristo veio «iluminar aqueles que jazem nas trevas e nas sombras da morte, para guiar os seus passos no caminho da paz» (Lc 1,79). De que trevas falamos? Tudo aquilo que está na nossa inteligência, na nossa vontade ou na nossa memória e que não é Deus ou não provém de Deus, melhor dizendo, tudo aquilo que em nós não é para glória de Deus e causa separação entre Deus e a alma é trevas.

É que Cristo, tendo em Si a luz, trouxe-a até nós para que pudéssemos ver os nossos pecados e odiar as nossas trevas. Na verdade, a pobreza que Ele escolheu quando não encontrou lugar na hospedaria é para nós a luz pela qual podemos conhecer, a partir de então, a felicidade dos pobres em espírito a quem pertence o Reino dos Céus (Mt 5,3).

O amor de que Cristo deu testemunho consagrando-Se à nossa instrução e expondo-Se a suportar por nós as vicissitudes, o exílio, a perseguição, as chagas e a morte na cruz, o amor que finalmente O fez orar pelos seus carrascos é para nós a luz graças à qual também nós podemos aprender a amar os nossos inimigos.

Lansperge o Cartuxo (1489-1539), religioso e teólogo
Sermão 5; Opera Omnia

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