Como é que o centurião obteve a graça da cura do seu servo? «Porque também eu tenho os meus superiores a quem devo obediência e soldados sob as minhas ordens, e digo a um: ‘Vai’, e ele vai; e a outro: ‘Vem’, e ele vem; e ao meu servo: ‘Faz isto’, e ele faz.» Tenho poder sobre os meus subordinados mas eu também estou submetido a uma autoridade superior.
Se, pois, embora subordinado, tenho, apesar de tudo, o poder de comandar, o que não poderás fazer Tu, a Quem se submetem todas as potestades? Este homem pertencia ao povo pagão pois a nação judaica estava ocupada pelos exércitos do Império Romano.
Mas Nosso Senhor, embora estivesse no meio do povo hebraico, declarava já que a Igreja se espalharia por toda a terra, para onde Ele enviaria os seus apóstolos (cf Mt 8,11).
Com efeito, os pagãos acreditaram nele sem O terem visto. O Senhor não entrou fisicamente na casa do centurião; mas, embora ausente de corpo, estava presente pela sua majestade e curou esta casa pela sua fé.
Do mesmo modo, o Senhor só estava fisicamente presente no meio do povo hebraico; os outros povos não O viram nascer de uma Virgem, nem sofrer, nem caminhar, nem sujeitar-Se às condições da natureza humana, nem fazer maravilhas divinas.
Ele não fez nada disso entre os pagãos e, no entanto, entre eles, realizou-se o que Ele tinha dito a seu respeito: «Povos desconhecidos prestaram-Me vassalagem.» Como é que O serviram se não O conheciam? O salmo continua: «Mal ouviram falar de Mim, logo Me obedeceram e os estrangeiros Me cortejaram» (Sl 17,45).
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja
Sermão 62