«Jesus, cheio do Espírito Santo, retirou-se do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde esteve durante quarenta dias, e era tentado pelo diabo.»
Tudo o que Jesus fez e padeceu foi para nos instruir. Por isso, quis ser conduzido a esse lugar a fim de lutar com o demónio, para que ninguém, de entre os baptizados, se sinta perturbado se, depois do seu baptismo, sofre as maiores tentações, como se fosse uma coisa extraordinária; deve, antes, suportar tudo isso como se fizesse parte da ordem natural das coisas. Foi para isso que recebestes as armas: não para ficardes ociosos, mas para combaterdes.
Estes são alguns motivos pelos quais Deus não impede que tenhais tentações. Em primeiro lugar, para vos ensinar que vos tornastes muito mais fortes. Depois, para que vos conserveis prudentes, em lugar de vos orgulhardes dos grandes dons recebidos, porque as tentações têm o dom de vos humilhar. Além disso, sereis tentados para que o espírito do mal, perguntando-se se verdadeiramente renunciastes a ele, fique convencido, pela experiência das tentações, de que o abandonastes totalmente. Em quarto lugar, sois tentados para vos fortalecerdes e vos tornardes mais sólidos do que o aço. Em quinto lugar, para que tenhais a certeza absoluta de que vos foram confiados tesouros; porque o demónio não vos assaltaria se não tivesse visto que recebíeis uma honra maior.
São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja
Homilias sobre Mateus