Que todo o homem piedoso e amigo de Deus goze esta bela e luminosa festa! Que todo o servo fiel entre com júbilo na alegria do seu Senhor! (Mt 25,23) O que carregou o peso do jejum venha agora receber a sua recompensa. O que trabalhou desde a primeira hora receba hoje o seu justo salário (Mt 20,1s).
O que chegou depois de passada a terceira hora celebre esta festa na ação de graças. O que chegou depois da sexta hora não tenha receio, não ficará prejudicado. Se alguém tardou até à nona hora, aproxime-se sem hesitar. Se houver quem se atrasou até à décima primeira hora, não tenha medo da sua preguiça, porque o Senhor é generoso e recebe o último como o primeiro, exerce misericórdia sobre aquele, mas cumula este. Dá a um e agracia o outro.
Assim, pois, entrai todos na alegria do vosso Senhor! Primeiros e últimos, ricos e pobres, os que vigiaram e os que se deixaram dormir, vós que jejuastes e vós que não jejuastes, alegrai-vos hoje! O festim está pronto, vinde todos (Mt 22,4)!
O vitelo gordo está servido, que ninguém se vá embora com fome. Saciai-vos todos no banquete da fé, vinde servir-vos do tesouro da misericórdia. Que ninguém lamente a sua pobreza, porque o Reino chegou para todos; que ninguém chore as suas faltas, porque o perdão brotou do túmulo; que ninguém receie a morte, porque a morte do Salvador dela nos libertou. Aquele que a morte tinha agarrado destruiu-a, Aquele que desceu aos infernos despojou-os.
Isaías tinha-o predito ao dizer: «O inferno ficou consternado quando te encontrou» (14,9). O inferno ficou cheio de amargor porque foi arruinado; humilhado, porque foi entregue à morte; esmagado, porque foi aniquilado. Apoderou-se de um corpo e viu-se diante de Deus; agarrou-se à terra e encontrou o céu; apropriou-se do que via e foi derrotado por causa do invisível.
«Ó morte, onde está o teu aguilhão? Inferno, onde está a tua vitória?» (1Cor 15,55). Cristo ressuscitou e tu foste arruinado! Cristo ressuscitou e os demónios foram precipitados! Cristo ressuscitou e os anjos estão em júbilo! Cristo ressuscitou e já não há mortos nos túmulos, porque Cristo, ressuscitado dos mortos, Se tornou as primícias dos que tinham adormecido. A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos! Ámen.
Homilia atribuída a São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja
Liturgia ortodoxa da Páscoa