«E eu aqui a morrer de fome! Vou-me embora»
Por onde começar a chorar o que fiz ao longo da vida?
Quais serão os primeiros acordes desse canto de luto?
Concede-me, ó Cristo, o perdão dos meus pecados.
Tal como o oleiro amassando a argila,
Tu me deste, ó meu Criador, carne e ossos, espírito e vida.
Senhor que me criaste, meu juiz e meu Salvador,
Leva-me hoje de volta para Ti.
Ó meu Salvador, diante de Ti confesso as minhas faltas:
Caí sob os golpes do Inimigo.
Eis as chagas com que os meus pensamentos assassinos,
Quais salteadores, mutilaram a minha alma e o meu corpo (Lc 10,20s).
Pequei, ó Salvador, mas sei que amas o homem.
É a tua ternura que nos castiga
E a tua misericórdia é como o fogo.
Vês-me chorar e vens a mim
Tal como o pai acolhe o filho pródigo.
Desde a juventude, ó meu Salvador, desprezei os teus mandamentos.
Passei a vida em paixões e inconsciências.
Grito por ti: antes que chegue a morte,
Salva-me.
Em coisas vãs dissipei o património da minha alma.
Não colhi os frutos do fervor e tenho fome.
E grito: Pai de ternura, vem a mim,
Guarda-me na tua misericórdia.
Aquele que os ladrões assaltaram (Lc 10,30s),
Sou eu, no desvario dos meus pensamentos.
Eles atacam-me e ferem-me.
Inclina-Te Tu sobre mim, ó Cristo Salvador, e cura-me.
O sacerdote viu-me e afastou-se.
O levita viu-me, nu e a sofrer, e passou adiante.
Mas Tu, Jesus nascido de Maria,
Tu paras e socorres-me.
Lanço-me a teus pés, Jesus,
Pequei contra o teu amor.
Liberta-me deste fardo pesado demais
E, na tua misericórdia, acolhe-me.
Não entres em juízo contra mim,
Não reveles as minhas ações,
Não perscrutes motivos e desejos.
Mas, na tua compaixão, ó Todo-Poderoso,
Fecha os olhos às minhas faltas e salva-me.
Eis o tempo do arrependimento. Venho a Ti.
Liberta-me do pesado fardo dos meus pecados
E, na tua ternura, dá-me lágrimas de arrependimento.
Santo André de Creta (660-740), monge, bispo
Grande cânone da liturgia ortodoxa para a quaresma, 1.ª ode