Ser cristão é, antes de mais e sempre, arrancar-se ao egoísmo que vive exclusivamente para si, para se entrar numa grande orientação inabalável de vida de uns para os outros.
No fundo, todas as grandes imagens escriturais traduzem esta realidade. A imagem da Páscoa…, a imagem do Êxodo…, que começa com Abraão e que se torna numa lei fundamental, ao longo de toda a história sagrada: tudo isso é a expressão desse mesmo movimento fundamental que consiste em repudiar uma existência virada sobre si mesma.
O Senhor Jesus enunciou esta realidade da maneira mais profunda na comparação do grão de trigo, que mostra simultaneamente que essa lei essencial não só domina toda a História, como marca, desde o princípio, a criação inteira de Deus: «Em verdade vos digo, se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, ficará só; mas se ele morrer, dará muitos frutos.»
Na Sua morte e Ressurreição, Cristo cumpriu a lei do grão de trigo. Na Eucaristia, no pão de trigo, tornou-se verdadeiramente no fruto cêntuplo (Mt 13,8)de que vivemos ainda e sempre.
Mas, no mistério da santa Eucaristia onde continua a ser para sempre Aquele que é verdadeira e plenamente «para nós», convida-nos a entrar, dia após dia, nessa lei que mais não é do que a expressão da essência do amor verdadeiro…: sair de si mesmo para servir os outros.
O movimento fundamental do Cristianismo é, em última análise, o simples movimento do amor pelo qual nós participamos no próprio amor criador de Deus.
Cardeal Joseph Ratzinger (Bento XVI, Papa de 2005 a 2013)
“Um só Senhor”, 1965