«Não é Ele o carpinteiro?»
Esta verdade, segundo a qual o homem mediante o trabalho participa na obra do próprio Deus, seu Criador, foi particularmente posta em relevo por Jesus Cristo, aquele Jesus com Quem muitos dos seus primeiros ouvintes em Nazaré «ficavam admirados e exclamavam: “Donde lhe veio tudo isso? E que sabedoria é essa que lhe foi dada? Porventura não é este o carpinteiro?”» (Mc 6,2-3)
Com efeito, Jesus não só proclamava, mas sobretudo punha em prática com as obras o Evangelho que lhe tinha sido confiado, a palavra da Sabedoria eterna. Por esta razão, tratava-se verdadeiramente do «evangelho do trabalho», pois Aquele que o proclamava era Ele próprio homem do trabalho, do trabalho artesanal como José de Nazaré.
E, ainda que não encontremos nas suas palavras o preceito especial de trabalhar — antes encontramos, uma vez, a proibição de se preocupar de uma maneira excessiva com o trabalho e com os meios para viver (Mt 6, 25-34) — contudo, ao mesmo tempo, a eloquência da vida de Cristo é inequívoca: Ele pertence ao mundo do trabalho e tem apreço e respeito pelo trabalho humano; pode-se mesmo dizer mais: Ele encara com amor este trabalho, bem como as suas diversas expressões, vendo em cada uma delas uma linha particular da semelhança do homem com Deus, Criador e Pai.
Pois não foi Ele que disse: «Meu Pai é o agricultor» (Jo 15,1)? O próprio Jesus, nas suas parábolas sobre o Reino de Deus, refere-Se constantemente ao trabalho humano: ao trabalho do pastor, do agricultor, do médico, do semeador, do amo, do servo, do feitor, do pescador, do comerciante e do operário; fala também das diversas actividades das mulheres; e apresenta o apostolado sob a imagem do trabalho braçal dos ceifeiros ou dos pescadores. É este o grande, se bem que discreto, evangelho do trabalho que encontramos na vida de Cristo, nas Suas parábolas e em «tudo quanto Jesus foi fazendo e ensinando» (Act 1,1)
São João Paulo II (1920-2005), papa
Encíclica «Laborem exercens», § 26