«Vinde às bodas»
«Dizei aos convidados: “O meu banquete está pronto.Tudo está preparado. Vinde às bodas”». Mas os convidados esquivaram-se: um foi «para o seu campo, outro para o seu negócio».
Esta incrível azáfama, esta agitação contínua, reviram o mundo e são, infelizmente, por demais evidentes em todo o lado.
O que possuímos de vestuário, de comida, de fazenda e de tantas outras coisas é de tal modo prodigioso, que a nossa cabeça começa a andar à roda: metade disso seria mais que suficiente.
Esta vida mais não é do que uma passagem para a eternidade. Temos de resistir com todas as forças a esta exuberância de movimentação e de variedade, a tudo aquilo que não constitui uma necessidade absoluta, e recolhermo-nos dentro de nós, considerando a nossa vocação e como e de que modo o Senhor nos chama, este à contemplação íntima, aquele à vida activa, aqueloutro à paz interior no calmo silêncio da penumbra divina e na unidade do espírito.
E mesmo a estes últimos, Deus chama-os, a seu bel-prazer, umas vezes à acção exterior, outras à interior, embora o homem raramente permaneça atento a esse chamamento.
Também não está certo que, quem é chamado interiormente ao nobre e calmo silêncio, queira por isso mesmo abster-se de quaisquer obras de caridade.
Hoje em dia são muito raras as pessoas dispostas a fazer obras de caridade extraordinárias.
O Evangelho relata-nos que o Mestre descobriu um dos convivas sentado à mesa do festim sem o traje de núpcias. O traje que lhe faltava era a caridade divina, pura e verdadeira, essa intenção genuína de, ao procurar a Deus, excluir qualquer ponta de amor-próprio e tudo o que Lhe seja alheio, e só a Ele querer.
A esses, que só a si próprios procuram, Nosso Senhor diz: «Amigo, como entraste aqui sem o traje da verdadeira caridade?», uma vez que procuraram antes as criaturas de Deus do que o próprio Deus.
Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano de Estrasburgo
Sermão 74, em louvor de Santa Córdula