Anuncio-vos

«Anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo»

Está muito frio na terra. Os céus estão bordados de estrelas, que mal se conseguem adivinhar sobre o azul-escuro da abóbada celeste inundada de trevas.

Na Terra, uma das estrelas mais pequenas do imenso sistema planetário, estão em vias de acontecer esta noite prodígios que espantam os anjos: um Deus que, por amor ao homem, desce humildemente à carne mortal e nasce duma mulher numa das estrelas mais pequenas e mais frias, na Terra.

Também os homens têm gelo no coração. Ninguém acorre a assistir ao milagre do nascimento de Deus.

O mundo inteiro reduz-se a uma mulher chamada Maria, a um homem de olhos azuis que se chama José, e a um bebé recém-nascido que, envolvido em panos, abre os olhos pela primeira vez sob o hálito quente de um burro e uma vaca, repousando sobre a palha que a pobreza de José e a solicitude e o amor de Maria Lhe arranjaram.

O mundo dorme, inconsciente, o pesado sono da carne. Está muito frio nessa noite na terra de Judá. As estrelas bordadas no céu são olhos de anjos que cantam «Glória a Deus nas alturas!», um cântico entoado para Deus e escutado por alguns pastores que guardam os seus rebanhos e que acorrem a adorar, com a sua alma de meninos, a Jesus que acaba de nascer. É a primeira lição do amor de Deus.

Embora a minha alma não seja casta como a de José nem tenha o amor de Maria, ofereci ao Senhor a minha absoluta pobreza de tudo, a minha alma vazia.

Se não Lhe cantei hinos como os anjos, tentei cantar-Lhe alguns refrões dos pastores, a canção do pobre, daquele que nada tem; a canção daquele que só pode oferecer a Deus misérias e fraquezas.

Mas que importa, porque as misérias e as fraquezas oferecidas a Jesus com um coração verdadeiramente amoroso são aceites por Ele como se de virtudes se tratasse.

Grande, imensa é a misericórdia de Deus! A minha carne mortal não ouve os louvores do céu, mas a minha alma adivinha que hoje, tal como outrora, os anjos olham espantados para a Terra e entoam «Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens de boa vontade!»

São Rafael Arnaiz Barón (1911-1938), monge trapista espanhol
Escritos espirituais, 27/12/1936

 

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