Crede-me, caras irmãs: em boa verdade, se eu encontrasse um homem com os mesmíssimos sentimentos do cobrador de impostos, isto é, que se tivesse a si próprio por pecador, desde que nesse sentimento de humildade estivesse o desejo de ser bom, dar-lhe-ia de bom grado de dois em dois dias a Comunhão do Corpo do Senhor.
Se quisermos guardar-nos das nossas quedas e faltas graves, é absolutamente necessário que tomemos deste alimento nobre e forte.
Por conseguinte, não devemos abster-nos da Comunhão de ânimo leve, só porque nos sabemos pecadores; pelo contrário, precisamente por isso devemos apressar-nos a frequentar a Santa Mesa, uma vez que é aí que se escondem, e daí que advêm, a força, a santidade, a ajuda e a consolação.
Mas também não devemos julgar aqueles que lá não vão, nem sequer levemente, a fim de não ficarmos parecidos com o fariseu que se gloriava de si próprio e condenava aquele que tinha atrás de si.
Guardai-vos disso como da perda da vossa alma. Guardai-vos do perigoso pecado da censura.
Quando acontece ao homem atingir o cume da perfeição, nada se lhe torna mais necessário do que descer às mais baixas profundezas da humildade e permanecer junto da sua raiz.
Do mesmo modo que a altura da árvore lhe advém da profundidade das suas raízes, assim a elevação da nossa vida nos vem da fundura da nossa humildade.
Eis por que razão o cobrador de impostos, tendo conhecido as profundezas da sua baixeza ao ponto de nem sequer levantar os olhos ao céu, foi elevado às alturas, e «voltou justificado para sua casa» (Lc 18,14).
Jean Tauler (c. 1300-1361), dominicano de Estrasburgo
Sermão 48, para o 11.º domingo depois da Santíssima Trindade