Havia muitas viúvas em Israel

«Havia muitas viúvas em Israel»

Senhor, a minha alma miserável está nua, gelada e transida; deseja ser aquecida pelo calor do teu amor.

Na imensidade do meu deserto, na vastidão da vaidade do meu coração, não apanho ramitos como a viúva de Sarepta, mas apenas estes poucos galhos, para preparar a minha comida com um punhado de farinha e a vasilha de azeite, e depois entrar em minha casa e morrer (cf 1Rs 17,10ss) – ou por outra, não morrerei assim tão depressa; não, Senhor, «não morrerei, antes viverei, para narrar as obras do Senhor» (Sl 118,17). 7

Permaneço, pois, na minha morada solitária e abro a boca para Ti, Senhor, procurando alento.

E, por vezes, Senhor, Tu pões-me qualquer coisa na boca do coração, mas não permites que eu saiba o que é. É certo que sinto um sabor tão doce e tão delicioso, tão reconfortante, que já não quero mais nada.

Mas Tu não permites que eu compreenda, nem com a vista, nem com a inteligência; gostaria de retê-la, de a ruminar, de a saborear, mas ela passa depressa.

Aprendo pela experiência o que dizes sobre o Espírito no Evangelho: «Não sabes de onde vem nem para onde vai. O Espírito sopra onde quer» (Jo 3,8). Descubro em mim que Ele sopra, não quando eu quero, mas quando Ele quer.

Devo elevar os olhos somente para Ti, para Ti que és a «fonte de vida», e «na tua luz, verei a luz» (cf Sl 36,10).

Para Ti, Senhor, é para Ti que os meus olhos se voltam. Mas quanto tempo mais tardarás, durante quanto mais tempo se inclinará a minha alma para Ti, miserável, ansiosa, sem fôlego? Peço-Te: esconde-me «ao abrigo da tua face», guarda-me «das intrigas dos homens»; defende-me «na tua tenda contra as línguas maldizentes» (cf Sl 31,21).

Guilherme de Saint-Thierry (c. 1085-1148), monge beneditino, depois cisterciense
A Contemplação de Deus, 12; SC 61 bis

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