«Ele é que deve crescer, e eu diminuir». Em João a justiça humana atingiu o auge possível para o género humano.
A própria Verdade (Jo 14,6) dizia: «Entre os nascidos de mulher, não apareceu ninguém maior do que João Baptista» (Mt 11,11), por isso nenhum homem podia superá-lo.
Mas ele era apenas homem, enquanto Jesus era homem e Deus. E porque, segundo a graça cristã, nos é pedido que não nos gloriemos a nós próprios, mas «quem se gloria, que se glorie no Senhor» (2Cor 10,17), por esse motivo diz João: «Ele é que deve crescer, e eu diminuir».
É óbvio que, em Si próprio, Deus não pode aumentar ou diminuir.
Mas nos homens, à medida que a verdadeira vida espiritual progride, cresce a graça divina ao diminuir o poder humano, até que a Igreja de Deus, formada por todos os membros do Corpo de Cristo (1Cor 3,16), alcance a perfeição a que foi destinada, e todas as dominações, poderes e autoridades desapareçam para Deus ser «tudo em todos» (Cl 1,16; 1Cor 15,28).
«O Verbo era a luz verdadeira que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina e todos nós participamos da Sua plenitude» (Jo 1,9.16).
Em Si própria, uma Luz assim é sempre total, crescendo naquele que é iluminado, que se vê diminuído quando se destrói tudo o que nele havia sem Deus.
Porque sem Deus o homem só pode pecar, e esta capacidade humana diminui assim que a graça divina triunfa do pecado.
A fraqueza da criatura cede então ao poderio do Criador e a vaidade do nosso egoísmo desmorona-se perante o amor que preenche todo o universo.
Do fundo do nosso infortúnio João Baptista proclama a misericórdia de Cristo: «Ele é que deve crescer, e eu diminuir».
Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (Norte de África), doutor da Igreja
Sermão no nascimento de São João Baptista